"Já vestindo a pele do artista
O tempo arrebata-lhe a garganta
O velho cantor subindo ao palco
Apenas abre a voz, e o tempo canta"

(Chico Buarque de Hollanda)


Música do dia

domingo, 24 de outubro de 2010

2º dia...

Música: Como Nossos Pais
Autor: Belchior
Interprete: Elis Regina



Não quero lhe falar meu grande amor das coisas que aprendi nos discos
Quero lhe contar como eu vivi e tudo que aconteceu comigo
Viver é melhor que sonhar, eu sei que o amor é uma coisa boa
Mas também sei que qualquer canto é menor do que a vida de qualquer pessoa
Por isso cuidado meu bem, há perigo na esquina
Eles venceram e o sinal está fechado prá nós que somos jovens
Para abraçar seu irmão e beijar sua menina na rua
É que se fez o seu braço, o seu lábio e a sua voz
Você me pergunta pela minha paixão
Digo que estou encantada com uma nova invenção
Eu vou ficar nesta cidade, não vou voltar pro sertão
Pois vejo vir vindo no vento o cheiro da nova estação
Eu sinto tudo na ferida viva do meu coração
Já faz tempo eu vi você na rua, cabelo ao vento, gente jovem reunida
Na parede da memória essa lembrança é o quadro que dói mais
Minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo que fizemos
Ainda somos os mesmos e vivemos...
Ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais
Nossos ídolos ainda são os mesmos e as aparências não enganam não
Você diz que depois deles não apareceu mais ninguém
Você pode até dizer que 'eu tô por fora, ou então que eu tô inventando'
Mas é você que ama o passado e que não vê
É você que ama o passado e que não vê
Que o novo sempre vem
Hoje eu sei que quem me deu a idéia de uma nova consciência e juventude
Está em casa guardado por Deus contando vil metal
Minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo, tudo, tudo, tudo que fizemos
Nós ainda somos os mesmos e vivemos...
Ainda somos os mesmos e vivemos...
Ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais!



Histórico:
Podemos ver que a vanguarda vai sendo deixada de lado ao ser dito que as experiências de frases feitas de discos não valem de nada; o que conta mesmo são as experiências vividas, isso é o que faz uma pessoa evoluir mentalmente. Citando o estado perigoso em que se encontrava o futuro do mundo, os grandes transformadores das gerações futuras, os jovens. Faz uma referência à censura do AI-5, que fez o sinal estar fechado para os jovens pela falta de liberdade de expressão, fazendo com que a juventude da época caísse no comodismo forçado pelos militares conservadores. Mas como sempre há aquele que enxerga uma luz no fim do túnel, dá ênfase a um futuro positivo esperado pelos indivíduos da época, principalmente os jovens. Aliás, os estudantes sempre estiveram presentes nos anos de ditadura. A UNE foi um braço forte indo de encontro aos ideais ditatoriais da época.

Fala de uma revolução civil que caiu no esquecimento, onde os jovens não eram mais aqueles rebeldes com vontade de ver o mundo de outra maneira como pregava o Rock N’ Roll, nascido nos anos 50. Já que essa revolução foi deixada de lado, a vida voltou a ser como era nas primeiras décadas do século XX, onde a liberdade não era plena.
De fato o novo surpreende. E dito que ninguém busca novos horizontes e pensamentos, e é urgente essa necessidade de busca. Se já é difícil para inovar no começo do século XXI, onde o conformismo é maior e a ostentação também, imagine em tempos de ditadura militar... O novo choca onde quer que apareça, e sempre haverá aqueles que neguem as inovações com medo de reprovações. Aquele idealizador de novos pensamentos se fechou em seu mundo por ser classificado como membro periférico de um mundo onde tudo caminha em uma única direção e qualquer desvio é punido severamente.


Música: Alegria, Alegria
Autor: Caetano Veloso
Intérprete: Caetano Veloso
Caminhando contra o vento
Sem lenço e sem documento
No sol de quase dezembro,
Eu vou.
 O sol se reparte em crimes
Espaçonaves, guerrilhas
Em Cardinales bonitas,
Eu vou.
 Em caras de presidente,
Em grandes beijos de amor,
Em dentes, pernas, bandeiras,
Bomba e Brigitte Bardot.
 O sol nas bancas de revista
Me enche de alegria e preguiça.
Quem lê tanta notícia?
 Eu vou
Por entre fotos e nomes
Os olhos cheios de cores
O peito cheio de amores vãos.
Eu vou
Por que não? E por que não?
 Ela pensa em casamento
E eu nunca mais fui à escola
Sem lenço e sem documento
Eu vou.
 Eu tomo uma coca-cola
Ela pensa em casamento
Uma canção me consolaEu vou.
 Por entre fotos e nomes
Sem livros e sem fuzil
Sem fome, sem telefone,
No coração do Brasil.
 Ela nem sabe até pensei
Em cantar na televisão
O sol é tão bonito
 Eu vou
Sem lenço, sem documento
Nada no bolso ou nas mãos
Eu quero seguir vivendo amor.
Eu vou
Por que não? E por que não?

Histórico:
 “Alegria, alegria” ajudou a criar o estilo hoje intitulado de MPB e deslocou a expressão artística musical brasileira para o cenário da crítica social, em um ativismo político sem precedentes na história de outro tipo de arte no mundo. Graças a isso, Caetano Veloso teve grande parte de sua obra censurada pelo regime militar. Caetano era classificado para o governo no Brasil como “persona nom gratta”, uma expressão latina que corresponderia a mal-agradecido e, por isso, mal-vindo de volta à pátria.
É relatada a opressão sofrida pelo cidadão comum, nas ruas, nos meios de comunicação, em sua cultura nativa, no seu próprio país. Denuncia o abuso de poder de forma metafórica, a violência praticada pelo regime e a precariedade na educação brasileira proporcionada pela ditadura que queria pessoas alienadas. Para dar exemplos dos desníveis sociais existentes no Brasil e as diferenças regionais, o autor se utiliza de um expediente inovador. Através de comparações aparentemente desconexas e fazendo uso de metáforas, faz a denúncia dos contrastes regionais, sociais ou econômicos.