"Já vestindo a pele do artista
O tempo arrebata-lhe a garganta
O velho cantor subindo ao palco
Apenas abre a voz, e o tempo canta"

(Chico Buarque de Hollanda)


Música do dia

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Jornal O Pasquim


O Pasquim, um jornal revolucionário, que enfrentou a ditadura com inteligência e muito bom humor. O bem humorado jornal nasceu com a morte de um grande nome da imprensa brasileira: Stanislaw Ponte Preta. Com sua morte ficou inviável manter o jornal Carapuça que existia, a distribuidora do jornal convocou Tarso de Castro para solucionar o problema e a conclusão a que se chegou foi lançar uma nova publicação. Uniram-se então os cinco amigos para criar o novo veículo de divulgação: Tarso, Sérgio Cabral, Jaguar, Carlos Prósperi, Claudius e Dona Nelma, a secretária e musa inspiradora.  Para dar continuidade a esse novo veículo lançado era necessário um nome, já imaginando não ser uma coisa séria, Jaguar sugeriu O Pasquim. A sugestão não causou muito entusiasmo, mas depois de tanto pensarem acabou sendo esse mesmo.
A primeira edição já imaginam várias pessoas, contando ainda com textos da atriz Odete Lara, que se encontrava no festival de Cannes, e do cantor e compositor Chico Buarque, direto de Roma. A falta de importância do tablóide já se revelava na legenda de capa: um semanário executado só por jornalistas que se consideram geniais. Segundo Sérgio Augusto, um dos organizadores da antologia, o sucesso era tamanho que se os redatores quisessem, o jornal poderia ser publicado totalmente em latim e venderia do mesmo jeito. Mesmo com perfil jovem e vendagem garantida, em tempos de regime militar o tablóide encontrava problemas para atrair anunciantes.
O espaço pra crítica social sempre esteve presente, cheio de muito humor negro e ironia. Era certo que o regime militar não aceitava quieto todas as críticas. Uma bomba foi colocada dentro da redação do jornal e só não explodiu por defeito. Os censores determinavam vários cortes na edição do semanário antes que fosse liberado para publicação. Mesmo assim, alguns números ainda eram recolhidos das bancas por algum militar insatisfeito. A redação, deu seu jeito de zombar a censura. A primeira censora, chamada Dona Marina, por exemplo, acabou amiga de bebedeira dos jornalistas e foi demitida por deixar passar uma charge de Ziraldo, na qual ao invés do grito de independência de Dom Pedro, estava à legenda-Eu quero é mocotó! Em 1970, Ziraldo, Paulo Francis, Luiz Carlos Maciel, Paulo Garcez e Tarso de Castro foram presos. A pena foi esticada para dois meses e durante o período da prisão uma metafórica gripe tomou conta do jornal. E assim os leitores souberam, de maneira cifrada, do ocorrido.
Um dos pontos altos do Pasquim eram suas entrevistas. Leila Diniz, Madame Satã, Glauber Rocha, Gabriel Garcia Márquez, Oscarito. Personagens interessantes não faltavam na década de 1970. E colaboradores também não. Chico Anysio, Jô Soares, Danuza Leão, Vinícius de Moraes e outros. Em 1999, o cartunista Ziraldo tentou ressuscitar a publicação, mas não obteve sucesso. Logo depois o semanário chegou ao fim definitivamente. O charme do Pasquim consistia no subtexto das piadas bem humoradas, era totalmente fundamentado na luta pressuposta pela liberdade de expressão e pelo descompromisso com o formalismo.