"Já vestindo a pele do artista
O tempo arrebata-lhe a garganta
O velho cantor subindo ao palco
Apenas abre a voz, e o tempo canta"

(Chico Buarque de Hollanda)


Música do dia

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

3º dia...

Panis Et Circenses
(Caetano Veloso / Gilberto Gil - 1968)
Intérprete: Marisa Monte

Eu quis cantar 
Minha canção iluminada de som 
Soltei os panos sobre os mastros no ar 
Soltei os tigres e os leões nos quintais
Mas as pessoas na sala de jantar 
São ocupadas em nascer e morrer
Mandei fazer 
De puro aço luminoso um punhal 
Para matar o meu amor e matei 
Às cinco horas na avenida central
Mas as pessoas da sala de jantar 
São ocupadas em nascer e morrer
Mandei plantar 
Folhas de sonhos no jardim do solar
As folhas sabem procurar pelo sol 
E as raízes procurar, procurar 
Mas as pessoas da sala de jantar 
Essas pessoas da sala de jantar
São as pessoas da sala de jantar
Mas as pessoas da sala de jantar
São ocupadas em nascer e morrer

Histórico: Panis et Circenses vem do latim e significa: Política do pão e circo, ou seja, a música denuncia, uma crítica do que o governo fazia com a população: entretenimento e comida. Pra que se preocupar com mais? “Mas as pessoas da sala de jantar / São ocupadas em nascer e morrer” é uma crítica à estas pessoas. Uma sociedade que fechava os olhos e aceitava o pão e circo que o governo usava como “cala-boca” e se preocupavam com os próprios problemas (qualquer semelhança com o hoje é mera coincidência!) e esqueciam de preocupar - se também com seu país. 


Acorda Amor
(Julinho de Adelaide / Leonel Paiva - 1974)
Intérprete: Chico Buarque

Acorda amor
Eu tive um pesadelo agora
Sonhei que tinha gente lá fora
Batendo no portão, que aflição 
Era a dura, numa muito escura viatura 
minha nossa santa criatura 
chame, chame, chame, chame o ladrão 
Acorda amor
Não é mais pesadelo nada
Tem gente já no vão da escada
fazendo confusão, que aflição
São os homens, e eu aqui parado de pijama 
eu não gosto de passar vexame 
chame, chame, chame, chame o ladrão 
Se eu demorar uns meses convém às vezes você sofrer 
Mas depois de um ano eu não vindo
Ponha roupa de domingo e pode me esquecer
Acorda amor
que o bicho é bravo e não sossega
se você corre o bicho pega
se fica não sei não 
Atenção, não demora
dia desses chega sua hora
não discuta à toa, não reclame 
chame, clame, clame, chame o ladrão

Histórico: Após as canções “Cálice” e “Apesar de Você” terem sido censuradas pelo sistema repressivo, Chico Buarque achou que seria mais difícil conseguir aprovar alguma música sua pelos agentes da censura. Escreveu então “Acorda Amor” com o pseudônimo de Julinho de Adelaide para driblar a censura. Como ele esperava, a música passou. Julinho ainda escreveria mais 2 músicas antes de uma reportagem especial do Jornal do Brasil sobre censura, que denunciou o personagem de Chico. Após esta revelação, os censores passaram a exigir que as músicas enviadas para aprovação deveriam ser acompanhadas de documentos dos compositores.
Acorda Amor é um retrato fiel aos fatos ocorridos no período que teve seu ápice entre 1968 (logo após a decretação do AI-05) e 1976 quando, teoricamente, a tortura já não era mais praticada pelos militares. Diversas pessoas sumiram durante este período após terem sido arrancadas de suas casas a qualquer hora do dia ou da noite, e levadas para DOPS e DOI-CODI´s espalhados pelo Brasil. A falta de confiança era tão grande que as pessoas tinham mais medo dos policiais (que seqüestravam, torturavam, matavam e, muitas vezes sumiam com corpos) do que de ladrões. A ironia do compositor é tão grande que, quando os agentes da repressão chegam a casa chamam-se os ladrões para que sejam socorridos.



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